19 de outubro de 2004

Ave! Maria! - Fagundes Varela

Ave! Maria!

A noite desce, - lentas e tristes
Cobrem as sombras a serrania,
Calam-se as aves, - choram os ventos,
Dizem os gênios: - Ave-Maria!

Na torre estreita de pobre templo
Ressoa o sino da freguesia,
Abrem-se as flores, - Vésper desponta,
Cantam os anjos: - Ave! Maria!

poesia encontrada na página: http://www.melhoresdaspoesias.hpg.ig.com.br/ave.htm
No tosco alvergue de seus maiores,
Onde só reinam paz e alegria,
Entre os filhinhos o bom colono
Repete as vozes: - Ave! Maria!

E, longe, - na velha estrada,
Pára, - e saudades à pátria envia,
Romeiro exausto, que o céu contempla
E fala aos ermos: - Ave! Maria!

Incerto nauta por feios mares,
Onde se estende névoa sombria,
Se encosta ao mastro, descobre a fronte,
Reza baixinho: - Ave! Maria!

Nas soledades, sem pão nem água,
Sem pouso e tenda, sem luz nem guia,
Triste mendigo, que as praças busca,
Curva-se e clama: - Ave! Maria!

Só nas alvovas, nas salas dúbias,
Nas longas mesas de longa orgia
Não diz o ímpio, - não diz o avaro,
Não diz o ingrato: - Ave! Maria!

Ave! Maria! - No céu, na terra!
Luz da aliança! - Doce harmonia!
Hora divina! - Sublime estância!
Bendita sejas! - Ave! Maria!